28 de abr. de 2012

Mãos.


A mesma que cega é a mesma que enxerga. A mesma que diz “olá” e “adeus”. A mesma que estala, que estica, que mostra, que treme — e teme. Vem em pares. São as mesmas que cumprimentam e apunhalam, numa estranha generosidade hostil. São elas que afagam, acalentam, acalmam. Sufocam. São fontes de prazer inesgotável.
Tão pequenas a ponto de caberem dentro de uma mão e tão grandes que seguram o mundo. Tão frágeis a ponto de serem atadas sem nó e tão seguras que guardam corações. Felizes ficam quando encontram seu encaixe perfeito, como se dois corpos diferentes tivessem sido moldados lado a lado. Quando há uma conexão tão intensa, que, mesmo separadas, elas sentem. Sentem-se tristes, vacilam diante de perigo, expressam emoção que às vezes até os olhos recusam-se a mostrar.
Salvam, matam, amam, odeiam. Guerra e paz escondidas em cinco dedos. Imagine o que você pode fazer com uma mão. Agora imagine o que você pode fazer com duas.

21 de abr. de 2012

Laranja e Sal.

O melhor imediato, nem tão bom depois.
É assim que se sente? 
Sorrisos trocados, suspiros no ouvido, mas apenas presente, com um passado esquecido e sem futuro algum. 
Os trovões dentro e fora, servindo de trilha sonora para aquele desastre natural, aquela atração inexplicável. 
É assim que eu devo sentir?
O imperfeito encaixe dos dedos é confortável. 
O encaixe dos lábios leva a sorrisos involuntários. 
Sentir um coração pulsando em meu ouvido parece ser parte da mais belíssima canção.
Mas tudo acaba se perdendo no ar do depois, como se tudo aquilo fosse apenas uma lembrança.
Uma lembrança com gosto de laranja e sal.