17 de dez. de 2012

Você sabe


A vida é feita de imprevistos que distorcem seus conceitos: do certo e do errado, do sim e do não.
Eu não quero.
Eu quero.
Eu não quero querer.
Muito mais difícil lutar contra mim quando você sabe exatamente como fazer.
E se na manhã seguinte você não se lembrar, ou simplesmente fizer de conta que nada aconteceu, vou te seguir, farei o mesmo.
Não me importo, pois sou a maior prova viva de que dilemas tem consequências infinitas e improváveis.
Seu cheiro em mim numa manhã de domingo...
E cada palavra dita ao pé do ouvido que era exatamente o que eu queria ouvir.
Meio certo, meio errado, meio não me importo.
Afinal, o veneno já foi derramado.
Então suas marcas ficam na memória e a luta entre meu corpo e minha mente continua: a de querer mais mesmo não querendo querer nada.
Não podendo querer nada.
Deixa estar. Deixa ser o que é - o que eu não sei. Deixa eu carregar isso comigo assim, como mais uma na coleção das minhas noites improváveis.

23 de out. de 2012

Perdoa.


Meu amor,
Perdoa minhas mãos por não poderem afagar-te em momento de solidão
Por não poder segurar-te em momentos de derrota
Por não poder namorar as suas, por estar a infinitos de distância.

Perdoa meu sorriso, por não poder iluminar tuas manhãs
Por não poder guiar-te pelo manto escuro da noite
Por não poder sorrir de longe quando você sorri também.

Perdoa meus olhos, por encher meu rosto de lágrimas
Nascentes dos rios que resplandecem em minha face
Apenas por não poder dizer-te nada sem dizer nada.

Perdoa meus lábios, por não poder beijar os teus
Por não poder deslizar pelo teu corpo
E muito menos dizer o que você deveria escutar ao pé do ouvido.

Perdoa meu coração, há muito já maltratado
Que achou que tinha encontrado refugio
Juntando a tua com a minha desilusão.

E por fim, perdoa minha mente.
Perdoa por amar assim, sem mais nem menos.
Amar-te, respeitar-te e querer-te sem nunca ter amado.
Sem nunca ter sido amado.
Sem nunca amar amando.
E seguir amando-te, ó amor desconhecido.

9 de out. de 2012

Peter Pan.

Talvez seja preciso morrer lentamente, acabar com qualquer inocência aparente para seguir a vida. As tatuagens deixadas pelo tempo que não aparecem na pele, mas são profundas no coração, são irreversíveis na maioria das vezes. Cravadas na memória, estão ali sempre querendo dizer alguma coisa. Que você errou nas suas decisões, que você deveria ter seguido em frente ou que tudo tenha acontecido num momento errado. Mas tudo isso mata o coração. Faz ele apodrecer, acabando com o bem mais precioso que nos tentam tirar desde a tenra infância: a inocência. Porque é aí, quando a inocência morre, quando deixamos de acreditar em contos de fadas e amores verdadeiros, que nos tornamos adultos. E cada vez mais cedo os adultos surgem, os corações entram em estado de putrefação e a magia passa apenas a existir na literatura. Talvez precisemos transformar Peter Pan no novo herói mundial.

16 de set. de 2012

Bang, bang, little bad guy!

Parabéns, caubói. Você acertou em cheio o alvo. Com uma rapidez tão impressionante, nem me deu tempo de revidar. Você me pôs aqui, no chão. Mas só porque eu sangro não quer dizer que morrerei. Eu conheço as terras desse Oeste muito melhor que um forasteiro como você. E te digo, baby: ainda levarei mutos tiros como esse. Sangro, claro que sim. Todos sangramos, não? Mas se você acha que isso é suficiente pra me derrubar, garoto, melhor pensar de novo. No final, isso tudo vai ser apenas mais uma cicatriz da vida. E atire, vai! Atira. De novo, de novo, e de novo. Eu levantarei todas as vezes. Levantarei enquanto eu conseguir. E você, caubói, terá sua recompensa. Eu nem precisarei sujar minhas mãos. Porque nem todos nesse Oeste são como eu. Alguns atiram pelas costas.

23 de ago. de 2012

Dois solitários numa noite fria.


Meio alto, na área de fumantes. Tomando um ar, como se isso ajudasse a digerir o álcool mais rápido... grande bobagem. Eis que ele surge, perguntando se eu tinha fogo. Eu sorrio e respondo que não fumo, apesar de ter pensado em uma outra réplica despudorada. Ele retribui o sorriso e encosta na parede, bem ao meu lado. Parece pior do que eu...
Eu pergunto se ele está bem, se precisa de alguma coisa. Ele diz que precisa sim. "O Quê?", eu pergunto. "De amor...", ele vacila ao responder, tropeça nos próprios pés e cai em cima de mim. Tento colocá-lo em pé novamente, mas ele me abraça. Eu fico em silêncio e o deixo ali. Eu estava, estranhamente, gostando da situação. Abraçado por um desconhecido, ambos bêbados, solitários, numa noite fria.
"Eu gosto de você, estranho..."
"Você também não é nada mau. Mas vamos lembrar disso amanhã?"

22 de ago. de 2012

Woody.




Há tantos problemas no nosso dia a dia que a felicidade parece ser o menor deles.
Felicidade, pra quê?
Eu posso ter um carro, um emprego, muito dinheiro e passar a vida procurando um amor.
Pra que felicidade se eu posso ser infeliz?
Tudo conspira pra infelicidade. Porque se a felicidade for plena os problemas não existem, e se os problemas não existem o mundo para. E se o mundo parar, pra onde vamos?
Eis que surge Woody Allen na tela do cinema, falando pra protagonista: "ele é um grande homem, você deve ficar com ele!"
Quais são as chances de isso acontecer?
Você nunca vai conhecer o Woody Allen.
Você vai demorar a encontrar (isso se encontrar algum) grande homem.
Você nunca vai ser feliz por dentro e por fora. É impossível. Ou talvez seja, eu que nunca fui.
Mas, se nós fôssemos completamente felizes e tivéssemos o amor de nossas vidas, o cinema não existiria. Nem o Woody Allen.

20 de jun. de 2012

Só o amor faz o mundo andar...


Doze de junho, dia dos namorados, e eu solteiro há quatro anos. Trabalho em uma loja de serviços e produtos fotográficos. Nesse fatídico dia, passei todo o tempo compreendido de nove da manhã às seis da tarde vendo, revelando, colocando em portarretratos e embrulhando fotos de casais. A venda de almofadas personalizadas de coração nunca foi tão alta, e eu atendendo clientes fingindo felicidade, enquanto não sentia nada além de frustração.
Lembrei-me vagamente de um episódio do desenho animado As Meninas Superpoderosas, chamado “Mímica Para Variar”. Nele, o vilão é o colorido Palhaço Arco-Íris, que se envolve num terrível acidente com um caminhão de alvejante, perdendo suas cores e se tornando um mímico malvado que deixa toda a cidade em preto e branco. Daí, elas cantam uma música que repete incansavelmente a frase “só o amor faz o mundo andar”, tudo fica colorido novamente, elas dão uma surra nele e o colocam na cadeia. Sempre odiei esse final. Afinal, pessoas desbotadas como ele e eu não tem culpa disso.
Voltei pra casa pensando naquilo tudo: em como o mundo estava colorido a minha volta e em como eu, tomado pela raiva, queria deixar tudo em escala de cinza. Toda aquela coisa melosa de casais se beijando e trocando presentinhos já estava me enchendo o saco. No fundo, porque eu não tinha alguém para fazer a mesma coisa.
Entrei no ônibus querendo que o dia acabasse logo e os casais voltassem a brigar e odiar as manias um do outro. Sem cadeiras restantes, fico de pé. Sentado algumas cadeiras a minha frente, vejo um casal – meus vizinhos. Ela, de cabelos loiros e curtos, com as rugas já marcando presença e denunciado a idade, apesar do visível espírito jovem. Ele, já grisalho, cultivava uma barba respeitável. Conversavam animadamente, sorriam constantemente e eu já estava me enojando. O ônibus para no ponto em que devemos soltar. Eles vão na frente. Ele desce primeiro. Quando ela chega ao último degrau, ele inesperadamente a pega no colo e a coloca gentilmente no chão. Ela não consegue segurar o grito de espanto. Eu não consigo evitar um sorriso. De repente, esqueci de toda minha raiva, todo o meu drama. Fui invadido por uma sensação de alegria. Fui colorido novamente. Foi aí que descobri: o amor é contagiante. Mesmo que ele não seja o seu. 

28 de abr. de 2012

Mãos.


A mesma que cega é a mesma que enxerga. A mesma que diz “olá” e “adeus”. A mesma que estala, que estica, que mostra, que treme — e teme. Vem em pares. São as mesmas que cumprimentam e apunhalam, numa estranha generosidade hostil. São elas que afagam, acalentam, acalmam. Sufocam. São fontes de prazer inesgotável.
Tão pequenas a ponto de caberem dentro de uma mão e tão grandes que seguram o mundo. Tão frágeis a ponto de serem atadas sem nó e tão seguras que guardam corações. Felizes ficam quando encontram seu encaixe perfeito, como se dois corpos diferentes tivessem sido moldados lado a lado. Quando há uma conexão tão intensa, que, mesmo separadas, elas sentem. Sentem-se tristes, vacilam diante de perigo, expressam emoção que às vezes até os olhos recusam-se a mostrar.
Salvam, matam, amam, odeiam. Guerra e paz escondidas em cinco dedos. Imagine o que você pode fazer com uma mão. Agora imagine o que você pode fazer com duas.

21 de abr. de 2012

Laranja e Sal.

O melhor imediato, nem tão bom depois.
É assim que se sente? 
Sorrisos trocados, suspiros no ouvido, mas apenas presente, com um passado esquecido e sem futuro algum. 
Os trovões dentro e fora, servindo de trilha sonora para aquele desastre natural, aquela atração inexplicável. 
É assim que eu devo sentir?
O imperfeito encaixe dos dedos é confortável. 
O encaixe dos lábios leva a sorrisos involuntários. 
Sentir um coração pulsando em meu ouvido parece ser parte da mais belíssima canção.
Mas tudo acaba se perdendo no ar do depois, como se tudo aquilo fosse apenas uma lembrança.
Uma lembrança com gosto de laranja e sal.