20 de jun. de 2012

Só o amor faz o mundo andar...


Doze de junho, dia dos namorados, e eu solteiro há quatro anos. Trabalho em uma loja de serviços e produtos fotográficos. Nesse fatídico dia, passei todo o tempo compreendido de nove da manhã às seis da tarde vendo, revelando, colocando em portarretratos e embrulhando fotos de casais. A venda de almofadas personalizadas de coração nunca foi tão alta, e eu atendendo clientes fingindo felicidade, enquanto não sentia nada além de frustração.
Lembrei-me vagamente de um episódio do desenho animado As Meninas Superpoderosas, chamado “Mímica Para Variar”. Nele, o vilão é o colorido Palhaço Arco-Íris, que se envolve num terrível acidente com um caminhão de alvejante, perdendo suas cores e se tornando um mímico malvado que deixa toda a cidade em preto e branco. Daí, elas cantam uma música que repete incansavelmente a frase “só o amor faz o mundo andar”, tudo fica colorido novamente, elas dão uma surra nele e o colocam na cadeia. Sempre odiei esse final. Afinal, pessoas desbotadas como ele e eu não tem culpa disso.
Voltei pra casa pensando naquilo tudo: em como o mundo estava colorido a minha volta e em como eu, tomado pela raiva, queria deixar tudo em escala de cinza. Toda aquela coisa melosa de casais se beijando e trocando presentinhos já estava me enchendo o saco. No fundo, porque eu não tinha alguém para fazer a mesma coisa.
Entrei no ônibus querendo que o dia acabasse logo e os casais voltassem a brigar e odiar as manias um do outro. Sem cadeiras restantes, fico de pé. Sentado algumas cadeiras a minha frente, vejo um casal – meus vizinhos. Ela, de cabelos loiros e curtos, com as rugas já marcando presença e denunciado a idade, apesar do visível espírito jovem. Ele, já grisalho, cultivava uma barba respeitável. Conversavam animadamente, sorriam constantemente e eu já estava me enojando. O ônibus para no ponto em que devemos soltar. Eles vão na frente. Ele desce primeiro. Quando ela chega ao último degrau, ele inesperadamente a pega no colo e a coloca gentilmente no chão. Ela não consegue segurar o grito de espanto. Eu não consigo evitar um sorriso. De repente, esqueci de toda minha raiva, todo o meu drama. Fui invadido por uma sensação de alegria. Fui colorido novamente. Foi aí que descobri: o amor é contagiante. Mesmo que ele não seja o seu. 

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