Doze de junho, dia dos namorados, e eu
solteiro há quatro anos. Trabalho em uma loja de serviços e produtos
fotográficos. Nesse fatídico dia, passei todo o tempo compreendido de nove da
manhã às seis da tarde vendo, revelando, colocando em portarretratos e
embrulhando fotos de casais. A venda de almofadas personalizadas de coração
nunca foi tão alta, e eu atendendo clientes fingindo felicidade, enquanto não
sentia nada além de frustração.
Lembrei-me vagamente de um episódio
do desenho animado As Meninas
Superpoderosas, chamado “Mímica Para Variar”. Nele, o vilão é o colorido
Palhaço Arco-Íris, que se envolve num terrível acidente com um caminhão de
alvejante, perdendo suas cores e se tornando um mímico malvado que deixa toda a
cidade em preto e branco. Daí, elas cantam uma música que repete
incansavelmente a frase “só o amor faz o mundo andar”, tudo fica colorido
novamente, elas dão uma surra nele e o colocam na cadeia. Sempre odiei esse
final. Afinal, pessoas desbotadas como ele e eu não tem culpa disso.
Voltei pra casa pensando naquilo
tudo: em como o mundo estava colorido a minha volta e em como eu, tomado pela
raiva, queria deixar tudo em escala de cinza. Toda aquela coisa melosa de
casais se beijando e trocando presentinhos já estava me enchendo o saco. No
fundo, porque eu não tinha alguém para fazer a mesma coisa.
Entrei no ônibus querendo que o dia
acabasse logo e os casais voltassem a brigar e odiar as manias um do outro. Sem
cadeiras restantes, fico de pé. Sentado algumas cadeiras a minha frente, vejo
um casal – meus vizinhos. Ela, de cabelos loiros e curtos, com as rugas já
marcando presença e denunciado a idade, apesar do visível espírito jovem. Ele,
já grisalho, cultivava uma barba respeitável. Conversavam animadamente, sorriam
constantemente e eu já estava me enojando. O ônibus para no ponto em que
devemos soltar. Eles vão na frente. Ele desce primeiro. Quando ela chega ao
último degrau, ele inesperadamente a pega no colo e a coloca gentilmente no
chão. Ela não consegue segurar o grito de espanto. Eu não consigo evitar um
sorriso. De repente, esqueci de toda minha raiva, todo o meu drama. Fui
invadido por uma sensação de alegria. Fui colorido novamente. Foi aí que
descobri: o amor é contagiante. Mesmo que ele não seja o seu.
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